segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sem censura


Câmara de Vitória, vésperas das eleições:
- “A Neuzinha tá por aí?”
- “Tá não minha senhora, ta fazenda campanha! Posso te ajudar em alguma coisa?”
- “ Não sei filha...é que eu gostaria de pedir a ela pra me dar uma ajuda... to querendo colocar um silicone mas ta tão caro! E como ela é mulher né...quem sabe ela não me ajudava?”
Primeira situação com a qual eu e duas colegas de curso nos deparamos enquanto aguardávamos a candidata Neuzinha para uma entrevista. Minha função era fotografar a candidata enquanto as outras duas estudantes a entrevistavam. O silêncio constrangedor e algumas respirações mais prolongadas revelavam nosso discreto desejo de nos desmanchar em gargalhadas. Mas, como boas futuras profissionais, nos controlamos e continuamos a aguardar a candidata para que finalmente pudéssemos dar fim ao nosso trabalho.
Durante o período de espera ainda vivenciamos algumas situações diferentes, como solicitações de cópias de livros, pedidos de emprego, enfim, algumas coisas que fogem da alçada dos vereadores.
Notando nosso espanto, a jovem secretária (que mais parecia estar na praia com suas havaianas e blusas regatas que sequer combinavam) nos disse que esse tipo de pedido é comum. “Nem estranho mais não.” Nos entre olhamos e continuamos com nosso exercício de paciência.
Sem resultados. Fomos informados de que Neuzinha não iria mais comparecer ao gabinete, uma vez que o expediente dos funcionários da câmara estava encerrado. Um tanto decepcionadas deixamos o gabinete, mas não desistimos. Decidimos aguardar em frente ao local onde acontecem as sessões. Segundo nosso julgamento ela compareceria. Mais espera.
Meu professor de fotografia estava comigo me passando algumas instruções para que as fotos ficassem o melhor possível. Enquanto eu aguardava, observei o quanto as pessoas buscavam chamar a minha atenção andando vagarosamente quando estavam a minha frente. A princípio eu não entendi, quando uma senhora encarou a câmera em meu pescoço e esboçou um sorriso como se tivesse dado muita sorte. Pude ler seus pensamentos! Finalmente entendi que as pessoas estavam pensando que eu era uma representante oficial da imprensa.
Mais que depressa tomei a decisão de fazer aquela senhora se sentir uma estrela. Levantei de onde estava sentada e imediatamente fiz pose de fotógrafa experiente focando a tal senhora que não escondeu seu entusiasmo. Foram dois flashes seguidos. Até um carinhoso toque no braço eu recebi. Confesso, me senti muito bem.
-“Você tem uma das principais características de um repórter fotográfico: a cara de pau.” Foi o comentário que ouvir de meu professor quando voltei para meu lugar.
Como de praxe, continuamos a aguardar. Em decorrência, talvez o mais incrível fato de toda a minha carreira ainda não iniciada aconteceu.
Um senhor se ofereceu como modelo para algumas fotos.
Confira a sessão completa.
Não pude negar. Estava um tanto entediada e esse poderia ser um momento único em minha vida. Com a autorização de meu professor fiz a vontade do desconhecido. Nunca vi tanto sorriso e tão pouco dente na minha vida.
Após cinco ou dez minutos achei conveniente voltar ao meu posto. Fui informada pelo meu professor que deveríamos voltar, pois já estava ficando tarde e ainda tínhamos aula à noite.
Quando estávamos indo embora nos deparamos com Neuzinha em frente à Prefeitura fazendo bandeiraço.
Consegui fazer algumas fotos e minhas colegas fizeram a entrevista. Mesmo que isso não tivesse acontecido, nem preciso mencionar o quão satisfatório foi o quase dia de trabalho.

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